sexta-feira, dezembro 31, 2010

ANO NOVO, VELHAS RECEITAS


quinta-feira, dezembro 30, 2010

Crise neoliberal e sofrimento humano


O balanço que faço de 2010 vai ser diferente. Enfatizo um dado pouco referido nas análises: o imenso sofrimento humano, a desestruturação subjectiva especialmente dos assalariados, devido à reorganização económico financeira mundial.
Há muito que se operou a "grande transformação"(Polaniy), colocando a economia como o eixo articulador de toda a vida social, subordinando a política e anulando a ética. Quando a economia entra em crise, como sucede actualmente, tudo é sacrificado para salvá-la. Penaliza-se toda a sociedade como na Grécia, na Irlanda, em Portugal, na Espanha e mesmo dos USA em nome do saneamento da economia. O que deveria ser meio, transforma-se num fim em si mesmo.
Colocado em situação de crise, o sistema neoliberal tende a radicalizar sua lógica e a explorar mais ainda a força de trabalho. O sofrimento agora é mais generalizado e difuso afectando, ora mais ora menos, o conjunto dos países centrais. Trata-se de uma espécie de "mal-estar da globalização" em processo de erosão humanística. Ele se expressa por grave depressão colectiva, destruição do horizonte da esperança, perda da alegria de viver, vontade de sumir do mapa e até, em muitos, de tirar a própria vida. Por causa da crise, as empresas e seus gestores levam a competitividade até a um limite extremo, estipulam metas quase inalcançáveis, infundindo nos trabalhadores, angústias, medo e, não raro, síndrome de pânico. Cobra-se tudo deles: entrega incondicional e plena disponibilidade, dilacerando sua subjectividade e destruindo as relações familiares
Nas análises que se fazem da actual crise, importa incorporar este dado perverso que é o oceano de sofrimento que está sendo imposto à população, sobretudo, aos pobres, no propósito de salvar o sistema económico, controlado por poucas forças, extremamente fortes, mas desumanas e sem piedade. Uma razão a mais para superá-lo historicamente, além de condená-lo moralmente. Nessa direcção caminha a consciência ética da humanidade, bem representada nas várias realizações do Forum Social Mundial entre outras.
Leonardo Boff

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quarta-feira, dezembro 29, 2010

Pacóvios ingénuos


Sejamos claros. Os portugueses não foram chamados a pronunciarem-se sobre a adesão do país à União Europeia. Não referendaram a entrada no euro como não referendaram as cartas constitucionais da UE, antes ou depois do Tratado de Lisboa. Não referendaram tão pouco os sucessivos alargamentos da UE, que em 1986 tinha 12 países e já vai em 27.
Uma elite política, uma classe política, uma casta política, nascida do 25 de Abril de 1974, acantonada nos partidos da área do poder que nos têm desgovernado, são os únicos responsáveis pela nossa entrada no euro e do modo como nele entrámos. Fizeram-nos crer que a nossa entrada no euro só nos trazia coisas boas. Um desenvolvimento económico convergente, salários igualmente convergentes com os dos restantes países europeus, uma abertura de fronteiras económicas para onde poderíamos exportar os nossos produtos agrícolas e industriais. Não nos avisaram contudo, que para o acesso a estas “benesses” teríamos que encerrar fábricas da nossa indústria, abater barcos da nossa frota de pesca, abandonar os campos agrícolas, olivais, vinha e muitos outros produtos como a beterraba açucareira que abastecia 20% do consumo nacional. Pelo contrário, fizeram-nos crer que toda essa obsessão destrutiva constituía "modernidade e progresso" e até nos ofereciam avultadas compensações monetárias para, como idiotas chapados, sermos os coveiros da nossa própria economia. Entretanto, na igual medida em que deixámos de produzir começamos a importar o que antes criávamos. E não faltou dinheiro. Os bancos dos mais poderosos países da UE emprestavam-nos todo o que queríamos, a juros baixos, a 2, 5, ou 10 anos, conseguindo deste modo criar a procura indispensácel à exportação de todos os seus excedentes, objectivo primeiro das suas maquinações. Reavendo na operação, todo o dinheiro que nos haviam emprestado e constituindo-se credores.
Em vez do escoamento para a UE dos nossos produtos da indústria de calçado, lanifício e vestuário, no que ingenuamente acreditámos, tivemos afinal que aceitar a importação de iguais produtos de países fora da UE mas, também das maças da Argentina, das laranjas da África do Sul, etc.
Na grande feira em que se constituiu afinal a UE fomos enganados, como pacóvios ingénuos, pelos seus mais ardilosos e poderosos feirantes, bem acompanhados na trama por seus comparsas nacionais.

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segunda-feira, dezembro 27, 2010

A ANEDOTA DO ANO


Multas dos dirigentes de partidos pagas pelo Estado

As multas aplicadas aos dirigentes dos partidos políticos vão ser pagas pelo Estado. As novas regras da lei do Financiamento Partidário permitem que as multas e coimas aplicadas aos dirigentes dos partidos políticos sejam acrescentadas às despesas dos partidos.
No entanto, o facto de estas despesas serem subsidiadas pelo Estado, o dinheiro que os partidos pagam de coimas acaba por regressar aos seus cofres mais tarde, sob a forma de subvenção estatal.

terça-feira, dezembro 21, 2010

A religião dos mercados


Quase todos os líderes políticos, quer sejam da esquerda tradicional ou de direita, quer sejam do Sul ou do Norte, dedicam um verdadeiro culto ao mercado, e aos mercados financeiros em especial. Seria necessário dizer que fabricam uma religião do mercado. Em cada dia, é dita uma missa para honrar o Deus-Mercado para cada lar munido de um televisor ou de uma ligação à Internet, no momento em que se dá conta da evolução das cotações na Bolsa e das esperas dos mercados financeiros. O Deus-Mercado envia sinais através do jornalista de economia ou do cronista financeiro.
Não é não somente verdade para todos os países mais industrializados, mas também para a maior parte do planeta. Quer se esteja em Xanghai ou em Dakar, no Rio de Janeiro de Janeiro ou em Tombuctoou, receber-se-ão "os sinais enviados pelos mercados". Por toda a parte, os governantes procederam às privatizações e criaram a ilusão de que a população podia participar directamente nos rituais do mercado (comprando acções) e receber um benefício de retorno na medida em que se interpretassem bem os sinais enviados pelo Deus-Mercado. Realmente, uma pequena parte das camadas mais baixas conseguiu adquirir acções, mas não tem peso algum sobre as tendências do mercado.

Durante séculos, talvez se leia nos livros de História que, a partir de 1980, um culto fetichista fez furor. A subida em flecha do culto em questão será relacionada com dois nomes de chefes de estado: Ronald Reagan e Margaret Thatcher.
Os Deuses desta religião são os Mercados financeiros. São-lhes dedicados Templos que têm por nome Bolsas. Só os grandes padres e os seus acólitos são os seus convidados. O povo crente é convidado a comunicar com os Deuses-Mercados através do pequeno ecrã da TV, do computador, do jornal diário, da rádio ou da janelinha do banco.
Para amplificar, no espírito dos crentes, a potência dos Deuses-Mercados, comentadores anunciam periodicamente que estes enviaram sinais aos governos para indicar a sua satisfação ou o seu descontentamento. O governo e o Parlamento gregos compreenderam finalmente a mensagem enviada e adoptaram um plano de austeridade de choque que faz pagar as camadas mais baixas. Mas os Deuses estão descontentes com o comportamento da Espanha, Portugal, Irlanda e Itália. Os seus governos deverão também fazer uma oferenda com fortes medidas anti-sociais.

Os governos não são excepção: abandonaram os meios de controlo que detinham sobre estes mercados financeiros. Os investidores institucionais («zinzins»: grandes bancos, fundos de pensões, seguros...) que os dominam receberam dos governos milhares de mil milhões de dólares sob a forma de dons ou empréstimos que servem para os entregar em sela, após a derrota de 2007-2008. O Banco Central Europeu, a Reserva federal dos Estados Unidos, o Banco da Inglaterra emprestam-lhes, em cada dia, a uma taxa inferior à inflação, cestos de capitais que os "zinzins" se apressam a utilizar de maneira especulativa contra o euro, contra as tesourarias dos Estados, sobre o mercado das matérias primas...
Hoje, o dinheiro pode circular de um país para o outro sem a menor cobrança de imposto. Três mil mil milhões de dólares circulam, em cada dia, pelas fronteiras do mundo. Menos de 2% desta soma servem directamente o comércio mundial ou os investimentos produtivos. Mais de 98% servem as operações especulativas principalmente sobre as moedas, sobre os títulos da dívida, sobre as matérias primas.

Eric Toussaint, (doutor em Ciências Políticas, preside o CADTM da Bélgica, Comité para Anulação da Dívida do Terceiro Mundo e é autor de várias obras).

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segunda-feira, dezembro 20, 2010

Para onde vai a Europa?


Depois da Grécia, a Irlanda. E depois, provavelmente, Portugal. Na sequência, não sabemos. O que é certo é que vários países estão ameaçados pelos mercados. A Espanha já está sob a alça da mira. Mas com o devido respeito pelos demais, o caso da Espanha é diferente. Trata-se da quarta economia da Europa (12% do PIB europeu) e é um peso pesado da política europeia. A dívida espanhola é três vezes superior à grega, seu défice está, há dois anos, em torno de 10% do PIB, e o desemprego, que atinge todas as faixas de idade, está acima dos 20%. Se a Espanha recorrer ao fundo de resgate europeu, isso abriria também, de maneira inevitável, o caminho para acções especulativas contra Itália e França, o que significaria um giro decisivo para a Europa.

O paradoxo é que a estratégia europeia de saída da crise mundial (desregulamentação do mercado de trabalho, deflação salarial, desemprego estrutural, cortes orçamentais e privatizações) mostra os mercados cada vez mais vorazes. Daqui em diante, eles querem tudo. Essa estratégia, fundamentalmente recessiva, provoca um aumento legítimo das reivindicações sociais e políticas e dá lugar a perguntas que começam a ser formuladas espontaneamente pelas opiniões públicas. Joseph Stiglitz, prémio Nobel de Economia, expressa assim esse estado de ânimo: “Para Atenas, Madrid ou Lisboa, se colocará seriamente a questão de saber se interessa continuar o plano de austeridade imposto pelo FMI e por Bruxelas, ou se, ao contrário, é melhor voltarem a ser donos de suas políticas monetárias” (Le Monde, 23-24 de Maio de 2010).
Sami Nair
Sami Nair é professor convidado da Universidade Pablo de Olavide, Sevilha. Publicado no jornal El País (16/12/2010)

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domingo, dezembro 19, 2010

Quem especula contra o euro?


Em post anterior desvendámos um pouco do que se esconde por detrás dessas entidades estranhas e distantes, os chamados - “mercados financeiros”, como com ligeireza são apresentadas pelos média. Queixam-se os governos da EU da especulação de que são vítimas pelos ditos “mercados financeiros”. Os juros das suas dívidas soberanas, fruto dessa especulação, estão a alcançar valores insuportáveis, o que ameaça o próprio euro, a própria união monetária europeia.
Mas afinal, quem especula contra o euro?
Cruzando dados do Eurostat e do Banco Mundial chegamos a conclusões curiosas.
De 2008 a 2010, Portugal endividou-se em 23,5% do PIB (apenas de dívida pública), passou de 66,5% para 91%. Endividou-se em 1,3% com residentes no país e em 98,7% com não residentes. Mas, destes não residentes que compraram dívida portuguesa, 73,0% são europeus. Cinco países somente, a Alemanha, França, Inglaterra, Itália e a Holanda, só estes cinco países, compraram desde 2008, 54,1% da dívida portuguesa. Constata-se assim, que são os europeus que especulam os europeus (!). De outro modo, é o euro que especula contra o euro.
Difícil de entender? Talvez nem tanto. Desde que se compreenda que o euro constitui apenas um instrumento dos “mercados financeiros”. E, que acima do euro, se encontram os rendimentos, as ganâncias das Instituições financeiras europeias.

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quinta-feira, dezembro 16, 2010

Obama e os ricos


Senado dos EUA aprova pacote que reduz impostos dos ricos

O Senado americano aprovou ontem, com maioria expressiva (81 votos a favor e 19 contra), o pacote que prorroga por dois anos o benefício de redução de tributos criado durante o governo de George W. Bush e que terminariam no final deste ano.
O pacote traduz um recuo do governo Obama, que acenou durante a campanha eleitoral com o fim do corte de impostos promovidos por Bush em benefício dos mais ricos.
A redução ou isenção de impostos, no montante de US$ 858 bilhões, tende a acentuar o défice fiscal e os desequilíbrios da economia americana, que faz sentir seus efeitos em todo o mundo, hoje principalmente através da queda do dólar.
Nos EUA, 1% da população possui 23,5% do rendimento nacional.

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quarta-feira, dezembro 15, 2010

prisioneiros


Não parece razoável que o prisioneiro agrilhoado deva estar reconhecido ao dono que lhe trás a comida à mão. Os pequenos países parecem encontrar-se nesta situação. Prisioneiros de dívidas soberanas insuportáveis, mercê de políticas económicas que lhe foram externamente induzidas, prestam-se a tudo, mesmo às políticas mais regressivas que levam à recessão e ao precipício económico, apenas para agradar a seus credores, ao capital financeiro, aos mercados financeiros.

Os velhos tempos do domínio do capital produtivo na economia, que criava crescimento e emprego, acabaram de vez. Hoje a economia está dominada pelo capital financeiro. Hoje, quem domina o capital produtivo é o capital financeiro. O dinheiro é desviado da produção para a especulação financeira, cada vez mais inovadora numa extensa gama de produtos financeiros, empobrecendo o investimento e, deste modo, reduzindo o crescimento económica e aumentando o desemprego. (Segundo a Associação Internacional de Swaps e Derivativos, no fim de 2006 o valor de swaps de juros, swaps cambiais e opções de juros no mercado tinham atingido US$ 286 trilhões, aproximadamente seis vezes o Produto Mundial Bruto (PMB), em comparação com meros US$ 3,45 trilhões em 1990).

O capitalismo atingiu assim, na sua “natural evolução”, uma brutal contradição interna que se torna responsável pelo eclodir de crises cada vez mais intensas e devastadoras - o domínio do capital financeiro, ocioso, especulativo, parasitário e improdutivo, sobre o capiatl produtivo. E em sua busca desenfreada de obter receitas para novas aplicações financeiras, empobrece os povos, reduzindo salários e as funções sociais do estado e aumentando impostos sobre o trabalho. Antes, medidas de exploração semelhantes eram acompanhadas de promessas futuras de melhor bem estar. Hoje, contudo, já nada é oferecido em troca dos sacrifícios. Tudo é apresentado como uma fatalidade histórica procurando-se tão só, a aceitação pacífica das grilhetas que lhes colocam.

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terça-feira, dezembro 14, 2010

Sair do euro


Sair da zona do euro pode ser o único caminho para a recuperação

A dissolução da zona do euro não significa condená-la para sempre. Os países podem voltar a participar. Por ora, a região pode muito bem ter chegado ao ponto em que um divórcio amistoso é uma opção melhor do que anos de declínio económico e atrito político.
Assim, o problema real na Europa não é que a Espanha ou a Irlanda tenham tomado grandes empréstimos ou que muita dívida espanhola e irlandesa esteja nos balanços patrimoniais de bancos noutros países da Europa. Afinal de contas, quem se importa com o défice em conta corrente da Flórida - ou mesmo sabe o que isso significa? Não, o problema real é que a Europa não criou instituições abrangentes em nível da União como um todo que um mercado financeiro integrado exige.
Isso reflecte a ausência de instituições políticas centrais adequadas. A União Europeia nos ensinou lições valiosas ao longo das últimas décadas: primeiro, que a integração financeira exige a eliminação da volatilidade entre moedas nacionais; que a erradicação de riscos cambiais demanda a eliminação total das moedas nacionais; e agora nos mostra que a união monetária é impossível entre democracias sem união política.
Infelizmente, agora pode ser tarde demais para a zona euro. A Irlanda e os países da Europa meridional precisam reduzir sua dívida e melhorar significativamente a competitividade de suas economias. É difícil ver como eles podem atingir os dois objectivos permanecendo na zona euro.
Os socorros à Grécia e à Irlanda são apenas paliativos temporários: em nada contribuem para reduzir o endividamento, e a ajuda não deteve o contágio. Além disso, a austeridade fiscal que receitam retarda a recuperação económica. A ideia de que reformas estrutural e no mercado de trabalho podem produzir crescimento rápido não passa de uma miragem. Assim, a necessidade de reestruturação da dívida é uma realidade inevitável
A dissolução da zona do euro não significa condená-la para sempre. Os países podem voltar a participar, e fazê-lo com credibilidade, quando os pré-requisitos fiscais, normativos e políticos estiverem assegurados. Por ora, a zona do euro pode muito bem ter chegado ao ponto em que um divórcio amistoso é uma opção melhor do que anos de declínio económico e atrito político.

Dani Rodrik
(Dani Rodrik é professor de Economia Política na Escola de Governo John F Kennedy, na Universidade Harvard, e autor de "One economics, many recipes: globalization, institutions, and economic growth").

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segunda-feira, dezembro 13, 2010

Há muitas maneiras de matar

Há muitas maneiras de matar;
Podem enfiar-lhe uma faca na barriga
Tirar-lhe o pão
Não tratar de uma doença
Enfiá-lo numa casa insalubre
Empurrá-lo ao suicídio
Torturá-lo até à morte pelo trabalho
Levá-lo à guerra, etc,etc
Só algumas destas coisas são proibidas no nosso país;

Bertolt Brecht

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Lula


Lula defende Wikileaks e protesta contra prisão de Assange
Durante a apresentação do balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), realizado nesta quinta-feira (9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o Wikileaks e protestou contra a prisão de seu fundador, Julian Assange. Para Lula, o site está colocando a nu uma diplomacia que parecia inatingível. O presidente ainda afirmou que Assange não é o culpado pelo que está acontecendo, mas, sim, aqueles que produziram os fatos divulgados nos documentos.

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terça-feira, dezembro 07, 2010

os “mercados”


Assustam-nos com os “mercados”. Os meios de comunicação social, porta-vozes da elite dirigente, apregoam que temos que ser “bem comportados” não vamos nós irritar os “mercados”, essa entidade estranha e distante (presume-se que externa mas sem paradeiro conhecido) que como um Big Brother, a toda a hora, nos vigia. Exigem-nos que apresentemos a mais rasgada simpatia enquanto nos aumentam os impostos, nos retiram condições sociais de décadas e nos atiram para o desemprego. Tudo para não ferir a “susceptibilidade” dos ditos “mercados”.
Mas quem é ou quem são, afinal, os “mercados”? Com medo das palavras, pretendem esconder o que na verdade condiciona tão negativa e drasticamente a vida dos trabalhadores e da classe média. Os “mercados”, não são outra coisa que a expressão do capitalismo financeiro especulativo que, aproveitando o desenvolvimento da crise, crise de que é o único responsável, tenta rapidamente impor as suas “reformas” que os grandes grupos empresariais e financeiros desejaram que se realizassem durante muitos anos.
A crise serve como desculpa para reduzir ao mínimo o estado social, desregular o mercado de trabalho, enfraquecendo os sindicatos e assim reduzir salários e as condições sociais da grande maioria da população.
Tendo como propósito reduzir o estado social, serve como argumento a disciplina fiscal com redução da dívida pública e do défice público à custa sobretudo da redução da despesa pública social enquanto o argumento para a desregulação do trabalho é o aumento da competitividade.
Contudo, o grande objectivo do capital financeiro especulativo é aumentar os seus rendimentos à custa dos trabalhadores e das classes médias da população, acentuando mais ainda as desigualdades sociais.
Os comissários da UE associados ao FMI, são hoje os comités políticos e comportam-se como polícias desta ofensiva anti-social, que representa objectivamente um retrocesso histórico social, visando unicamente o aumento da ganância a qualquer preço do capital financeiro especulativo internacional.
A via de desenvolvimento de um país não pode decorrer à custa do sofrimento e privações do seu povo quando, ao mesmo tempo, em simultâneo, se amplia a riqueza dos mais ricos.

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segunda-feira, dezembro 06, 2010

"olho vivo"


Basílio Horta: Carro eléctrico vai tornar Portugal conhecido no ... Japão

domingo, dezembro 05, 2010

A causa da crise


Muito se escreveu sobre os factores que nos levaram à crise económica mais importante que sofremos desde a Grande Depressão de inícios do século XX. Mas pouco se disse sobre a raiz de tal crise, que é a enorme polarização dos rendimentos em ambos os lados do Atlântico, consequência, em grande parte, da aplicação das políticas neoliberais desenvolvidas pela maioria dos governos da OCDE (o clube de países mais ricos do mundo) desde os anos oitenta.
A revolução neoliberal iniciada pelo presidente Reagan nos EUA e por Thatcher no Reino Unido criou, ao serem aplicadas as suas políticas (diminuição dos impostos dos rendimentos superiores, aumento da regressividade fiscal, desregulação dos mercados laborais com o fim de debilitar os sindicatos e a força laboral, diminuição do gasto público, diluição dos direitos laborais e sociais, entre outras medidas), um enorme crescimento dos rendimentos superiores à custa dos rendimentos médios e inferiores. Por outras palavras, os rendimentos do capital dispararam à custa dos rendimentos do trabalho, que diminuíram. Isto é, em linguagem clara, os ricos converteram-se em super-ricos à custa de todos os demais (classe trabalhadora e classes médias). E aí está a raiz do problema, a realidade mais oculta e silenciada nos nossos meios de comunicação.
Olhemos os dados e analisemos os do país onde se iniciou a crise: EUA. Segundo afirma quem foi ministro do Trabalho sob a Administração Clinton, Robert B. Reich, no artigo "How to end the Great Recession" (The New York Times, 03/09/2010), o salário médio do homem trabalhador (ajustado à inflação) naquele país é mais baixo hoje que há 30 anos. Esta descida forçou a que nas famílias estado-unidenses - para manterem o seu nível de vida - mais membros da família trabalhassem, sendo essa uma das causas mais importantes da integração da mulher no mercado de trabalho. Enquanto apenas 32% das mulheres com filhos trabalhava em 1970, hoje fazem-no 60%. Outra forma de compensar a descida de salários foi aumentar as horas de trabalho. O trabalhador nesta década está a trabalhar mais 100 horas por ano (e a trabalhadora mais 200) que há tão só 20 anos.
Mas, mesmo com estas mudanças, a capacidade aquisitiva das famílias foi baixando, o que as forçou a endividar-se. As famílias estado-unidenses endividara-se até à medula, o que puderam fazer porque o aval das suas dívidas, a casa, ia subindo de preço. Até que a bolha rebentou. E agora as famílias têm uma enorme dívida. Nada menos que 2,3 biliões de dólares.
Até aqui, a descrição do que se passou com a maioria da população. Vejamos agora o que se passou com os ricos. O facto de a massa salarial (a soma dos salários) ter ido descendo como percentagem do rendimento nacional (e isso apesar do aumento do número de trabalhadores) quer dizer que os rendimentos do capital iam subindo. O que isto significa é que o crescimento da riqueza do país (o que se chama o crescimento do PIB) beneficiava muito mais os rendimentos superiores (que derivam o seu rendimento, em geral, da propriedade) do que o resto da população (que deriva o seu rendimento do trabalho). Como consequência, os ricos converteram-se em super-ricos. O 1% da população que possuía 9% do rendimento nacional nos anos setenta do século XX, passou a gozar agora de 23,5% do rendimento total, a mesma percentagem, na verdade, que quando se iniciou a Grande Depressão no princípio do século XX. E aí está o problema. Como diz Robert B. Reich, os super-ricos têm tanto dinheiro que consomem uma percentagem menor do seu rendimento que o cidadão normal e corrente. Ou seja, 23,5% do rendimento nacional que controlam utiliza-se menos em consumo e procura do que se fosse possuído por pessoas normais e correntes. A procura total, que é a que move a economia (pois é a que estimula o crescimento económico e a criação de emprego) desceu dramaticamente, em parte porque a maioria das famílias perdeu grande capacidade de consumo e os super-ricos tiraram do consumo 23,5% do rendimento total do país, consumindo muito menos que o cidadão médio.
E, como se isto fosse pouco, a situação agrava-se inclusive mais como consequência de os super-ricos depositarem o seu dinheiro em paraísos fiscais e/ou investirem em actividades especulativas que têm elevada rentabilidade, como os famosos hedge funds, o que é facilitado pela desregulação dos mercados financeiros. E aí está a raiz da crise financeira e do colapso do sistema bancário, que foi salvo com fundos públicos - quer dizer, impostos - procedentes das famílias profundamente endividadas.
Vicenç Navarro (9 de Setembro de 2010)

sexta-feira, dezembro 03, 2010

a economia e as pessoas


A economia só faz sentido se for usada para atender as necessidades humanas.
O crescimento económico permanente é impossível. Há espaço para certa irracionalidade económica, em lugar de se pensar que todas as decisões são pautadas, exclusivamente, pela mais pura racionalidade. O eixo central da economia não pode ser estritamente o mercado e o objecto a mercadoria mas, sim, o indivíduo e suas necessidades elementares.
O ritmo económico actual baseado na exploração desenfreada de recursos naturais e no super-consumo é insustentável. A práxis económica deve ser buscada no sentido de ser solidária, participativa e colectiva, trocando, assim, o actual modelo económico baseado na competição pelo de cooperação. O objectivo primordial da actividade económica não deve ser a produção de riqueza, mas, sim, o bem-estar das pessoas.
Todas essas afirmações, sem excepção, sopram em ventos contrários à ortodoxia económica. Tais argumentos ferem uma espécie de pensamento único que tem dominado, sobremaneira, o cenário académico das ciências económicas.
Marcus Eduardo de Oliveira

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