sexta-feira, junho 24, 2011

O "Default"


Paul Krugman: “Seguir os conselhos para ser sério foi um desastre”

“Me surpreende que digam que a Argentina não é um país sério. Não vejo como o default argentino (2001) pode ser apresentado, entre todos os exemplos possíveis, como uma advertência para a Grécia”, escreveu ontem em seu blog de New York Times o economista Paul Krugman.
“A Argentina sofreu terrivelmente entre 1998 e 2001, enquanto tentou ser ortodoxa e fazer o correcto. Depois de que defaultou em finais de 2001 atravessou uma breve mas severa queda, para em pouco tempo começar uma rápida recuperação que continuou por muito tempo”.
“O exemplo argentino sugere que o default é uma grande ideia. Os argumentos contra o default grego devem ser que se trata de um país diferente. Aspecto que, para ser justo, é discutivel”.

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Comissários do capital financeiro

O papel dos governantes europeus actuais não é, como seria normal e desejável, atenuar as desigualdades sociais, proteger a sociedade dos ataques indiscriminados dos especuladores financeiros, o mesmo é dizer, do capital financeiro, dos mercados, mas ao contrário, consiste em convencer a população a aceitar pacificamente a miséria a que a querem sujeitar.
Desde 1980 que duplicou a riqueza no mundo. Na Alemanha, de 2000 a 2008, a riqueza produzida aumentou 30%, enquanto a massa salarial apenas aumentou 8%. Os países industrializados apresentam este mesmo padrão. O aumento da riqueza não corresponde em igual proporcionalidade aos rendimentos auferidos pela população, quer em salários, quer em quaisquer outros benefícios sociais. Os rendimentos provenientes do aumento da produtividade, os rendimentos provenientes do aumento da riqueza produzida, estão a ser canalizados para os mais ricos.
Será muito difícil convencer os cidadãos da bondade das novas radicais medidas neoliberais que se querem impor nos PIGS em especial na Grécia e em Portugal. Será muito difícil convencer a população a trabalhar para que 10% da população que acumula 90% da riqueza, se converta em 9% acumulando 91%.
A conversão massiva ao mercado e à globalização neoliberal, a renúncia à defesa dos pobres, do Estado de bem-estar e do sector público, a nova aliança com o capital financeiro e a banca, despojaram a social-democracia europeia dos principais traços de sua identidade. A cada dia fica mais difícil para os cidadãos distinguir entre uma política de direita e outra “de esquerda”, já que ambas respondem às exigências dos senhores financeiros do mundo. Daí o cansaço popular. E a indignação. O repúdio da falsa alternativa eleitoral entre os dois principais programas, na verdade gémeos. Daí os protestos nas praças: “Nossos sonhos não cabem em vossas urnas”. O despertar. O fim da inacção e da indiferença. E essa exigência central”: “O povo quer o fim do sistema”.

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ViCman

terça-feira, junho 21, 2011

que futuro?

Portugal padece de dois males profundos que corroem o seu corpo e a sua alma.
O primeiro - a corrupção institucional - que particularmente na ultima quinzena de anos, paulatina mas consistentemente, se implantou na Administração do Estado. A proliferação de múltiplos órgãos do Estado, criados sem razões de racionalidade, eficácia, ou contenção de recursos, antes pelo contrário, agravando drasticamente a despesa pública, tendo como objectivo único a multiplicação de altos cargos da Administração, atribuídos por escolha política às elites das clientelas partidárias, só poderá ser considerado como corrupção institucional. Ao criar-se assim “artificialmente”, porque sem exigências de racionalidade, (será que com todo este alargamento da AP a Saúde, a Justiça, a Educação, a Segurança estão melhores?) uma estrutura paralela à existente na Administração Pública, totalmente politizada e politicamente controlada, com gestores recrutados não pela sua capacidade técnica mas pela sua fidelidade partidária, os negócios de Estado deixaram de pautar-se pelo interesse público e passaram a dirigir-se aos interesses particulares das elites partidárias.
Jamais será possível o “acerto das contas públicas” sem a extinção, pura e simples, de todos estes órgãos paralelos parasitários da Administração Pública, através de uma profunda Reforma da Administração, que lhe garanta racionalidade, eficácia, funcionalidade, competência técnica, contenção de custos e autonomia técnica. Os custos que o país suporta anualmente em cada orçamento de Estado, deverão rondar 10% do PIB. É uma carga sobre os ombros dos portugueses demasiado pesada, é uma verba exorbitante que inviabiliza desde logo o desenvolvimento económico e social desejável e compatível com os recursos disponíveis do país.
O segundoas políticas neoliberais - que sobretudo a partir da nossa entrada no euro os governantes adoptaram como guia na sua acção política. A destruição da nossa agricultura, das pescas e de muitos outros sectores da nossa indústria, o brutal agravamento da nossa dependência externa, económica e financeira com que nos defrontamos, são o corolário lógico da obediência cega e leviana dos nossos governantes às directivas da União Europeia convertida hoje no centro do poder neoliberal europeu. As políticas neoliberais, na sua clareza e simplicidade, detêm apenas um único objectivo - alcançar a toda a hora e em qualquer lugar os maiores rendimentos para o capital. Toda a sociedade deverá tornar-se escrava deste “grande” desígnio. O Estado deverá desregular a movimentação de capitais; colocar ao serviço do capital, privatizando, as empresas públicas de que ainda dispõe; diminuir as funções sociais do Estado entregando ao capital os serviços de Saúde, Educação, Segurança Social entre outros; manter os reduzidos impostos sobre o capital e se possível reduzi-los mais ainda; diminuir os custos do trabalho em benefício do capital, reduzindo salários através do aumento do desemprego; numa palavra – colocar o Estado não ao serviço das pessoas, dos cidadãos, mas ao serviço do capital. Não ao serviço de uma economia zelando pelos interesses dos cidadãos mas ao serviço de uma economia de protecção ao capital financeiro.
Dizia Aristóteles, “só há duas formas de governo: o que tem por objectivo o bem da comunidade e o que visa somente vantagem para os governantes”. Poderemos também dizer, só há duas formas económicas, duas economias: a que tem por objectivo a melhoria das condições económicas e sociais da maioria da população e a que visa unicamente os benefícios do capital financeiro.
Só a ruptura com as políticas neoliberais libertará o país, a esmagadora maioria dos portugueses, da escravidão, da pobreza e de um futuro sem esperança a que o capital financeiro o condenou.

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segunda-feira, junho 20, 2011

La crisis de la deuda de Europa, en la encrucijada
Kenneth Rogoff, Project Syndicate

Europa se encuentra en una crisis constitucional. Nadie parece tener el poder de imponer una resolución razonable a la crisis de la deuda de sus países periféricos. En lugar de reestructurar la carga de deuda manifiestamente insostenible de Portugal, Irlanda y Grecia (los llamados países PIG, por sus iniciales), los políticos y legisladores están presionando para que se adopten paquetes de rescate cada vez más grandes con condiciones de austeridad cada vez menos realistas. Por desgracia, no están solo "pateando" el problema para más adelante, sino empujando una bola de nieve montaña abajo.
Es cierto que, de momento, el problema sigue siendo económicamente manejable. El crecimiento de la eurozona es respetable, y los PIG representan solo el 6% de su PIB. Pero al argumentar obstinadamente que estos países se enfrentan a una crisis de liquidez, en lugar de un problema de solvencia, los funcionarios del euro están poniendo en riesgo todo el sistema. Importantes economías de la eurozona, como España e Italia, padecen grandes problemas de endeudamiento, especialmente si se tiene en cuenta su crecimiento anémico y una manifiesta falta de competitividad. Lo último que necesitan es que se haga creer a la gente que ya hay en marcha una unión implícita de transferencias y que las reformas y la reestructuración económica pueden esperar.
(Ler mais em Project Syndicate)

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dos ratos e dos gatos


Nesta “mouseland” em que vivemos dificilmente os “gatos” iriam admitir um “rato”, ainda que muito sabichão, para a presidência da AR.

sexta-feira, junho 17, 2011

Robert Reich explica o fundamento da crise em 2 minutos

En este video de 2 minutos, Robert Reich explica las claves de la economía contemporánea y la actual crisis económica con todo lo que esto implica. Para Reich, la economía ha crecido el doble desde 1980, pero los salarios se han mantenido estancados, dado que todo el diferencial de ganancias ha ido a parar a las grandes fortunas enriqueciendo al 1% más rico del planeta, como lo he señalado en este post. A este brutal enriquecimiento han contribuido también las rebajas tributarias y los subsidios a las grandes empresas como es el caso de las petroleras. El estancamiento de los salarios reales ha exacerbado la desigualdad y ahora, con la crisis, solo se piensa en aplicar recortes presupuestarios, lo que incrementará aún mas la brecha entre ricos y pobres.

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quinta-feira, junho 16, 2011

Acordo PPD/PP

Parecia mais um velório.
Só lá faltava o caixão.

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Veja como dois banqueiros levam a Europa à ruína
Durante um ano, o Deutsche Bank e o Banco Central Europeu fizeram-nos acreditar que o que se passa na Grécia seria desastroso para a Europa. Estavam a mentir com quantos dentes têm na boca.
Em Frankfurt, dois dos homens mais poderosos da Europa sentam-se, virtualmente, um de cada lado da rua, nos arranha-céus sede de duas das mais importantes instituições no continente. Ninguém elegeu estes homens para que governem sobre nós. Ninguém votou nas suas instituições para que ditassem a nossa política económica. No entanto é o que fazem.
Apresentamos Jean-Claude Trichet e Josef Ackermann. O primeiro é o líder do Banco Central Europeu, está de saída, e foi recentemente considerado pela Newsweek uma das cinco pessoas mais importamtes do mundo. O segundo é o líder do maior banco privado da zona euro, o Deutsche Bank, e foi recentemente considerado pelo New York Times "o banqueiro mais poderoso da Europa". Nenhum deles foi eleito para liderar a economia. No entanto, juntos é o que fazem.
De facto, ambos têm sido decisivos na definição da resposta a dar pela União Europeia à grave crise da dívida que contínua a assombrar a zona euro. Como noticiou o Times numa poderosa análise, o senhor Ackermann "encontra-se no centro do círculo mais concêntrico do poder, mais do que qualquer outro banqueiro do continente". De facto, ele aconselha regularmente políticos e decisores políticos sobre os assuntos económicos mais candentes do momento: a latente crise da dívida grega; a crescente tensão entre económicas europeias fortes, como a Alemanha, e as mais fracas como a Irlanda e Portugal; e o futuro da Europa como união económica e monetária e esse grande e expressivo empreendimento, o euro.
Ao mesmo tempo, nota o NYT, Ackermann é também "possivelmente o mais perigoso" banqueiro na Europa. Afinal, "não é segredo onde estão as alianças financeiras do senhor Ackermann: nos bancos". Por exemplo, Ackermann "tem insistido que seria um grave erro proporcionar algum alívio à dívida Grega".
Qual seria o problema da reestruturação da dívida da Grécia? A Argentina e o Equador demonstraram amplamente na última década que a reestruturação da dívida soberana pode, na verdade, libertar o país das medidas de austeridade e inibidoras do crescimento impostas por líderes estrangeiros, permitindo uma mais rápida recuperação enquanto as necessidades e preocupações internas são acauteladas.
Mas, claro, temos de nos recordar que o senhor Ackermann não é um observador neutral. Existe uma agenda por detrás do seu discurso apocalíptico. O Times nota apropriadamente que "os bancos europeus, incluindo alemães como o Deutsche Bank, detêm muitos milhões de euros nas obrigações financeiras do governo grego e os bancos perderiam bastante se essas dívidas fossem reestruturadas".
No entanto, como conseguiu Ackermann convencer Merkel, Trichet e outros líderes da UE que a reestruturação da dívida grega levaria a uma situação como a da Leman Brothers? “A solução da Europa para a Grécia é, essencialmente”, segundo o senhor Ackermann, “mais dinheiro de resgate e mais austeridade”, uma estratégia que alguns analistas admitem que permita apenas ganhar tempo sem oferecer nenhuma esperança de recuperação.
Assim, cego pela sua própria ganância e indisponibilidade para assumir responsabilidades pelos empréstimos irresponsáveis concedidos pelo seu banco e que se relacionam com a criação da crise, Ackermann apenas agrava a crise. Alerta de modo alarmante para a probabilidade do aumento das consequências desastrosas e a Europa está paralisada. Os nosso dirigentes compraram a mentira. Porquê?
Uma das razões para o sucesso de Ackermann é o facto de ter tido, durante a crise, o apoio dos seus vizinhos do Banco Central Europeu. Desde que a Grécia se afundou no abismo dos mercados de capital globais no início do ano passado, Jean-Claude Trichet, o presidente do BCE, bajulou cuidadosamente os interesses dos maiores bancos europeus qualificando a reestruturação como "demasiado arriscada".
Não por acaso, o senhor Ackermann parece desfrutar de boas relações com Jean-Claude Trichet. Quando a senhora Merkel sugeriu que os credores privados assegurem uma parte do fardo, Ackermann opôs-se ao governo alemão e colocou-se ao lado do seu amigo, o senhor Trichet, argumentando que contra reestruturação da dívida grega porque forçaria os investidores - e os bancos - a “partilhar as dores da Grécia”.
Hoje, a maioria dos especialistas em economia - quer da esquerda quer da direita - chegaram à conclusão que a Grécia é insolvente. Simplesmente não pode, realisticamente, reembolsar a sua dívida esmagadora enquanto a economia continuar a contrair-se em resultado das medidas de austeridade prescritas por Ackermann e Trichet.
Até o governo alemão e o presidente da zona euro, Jean-Claude Juncker, falam agora na chamada "reestruturação suave" da dívida grega. Mas o BCE recusa-se a financiá-la. Se esta atitude de teimosia era previsível por parte do interessado Deutsche Bank, pelo contrário, é surpreendente num suposto agente "neutro" como o BCE.
Então porque continua o BCE a opor-se à única e real solução para a crise da dívida grega? Porque é que continua a empurrar a Grécia, e com ela toda a zona euro, para o abismo? É apenas porque Trichet e Ackermann e companhia são amigos próximos? Ou passa-se mais alguma coisa?
Claro que se passa. Trichet cometeu o seu maior erro no ano passado quando decidiu ficar ao lado do seu amigo Ackermann ao opor-se o início da reestruturação da dívida. Em vez de permanecer na sua objectividade neutral enquanto líder do BCE, Trichet envolveu-se directamente na crise da dívida grega: começou por comprar grande quantidade de obrigações gregas através de mercados secundários só para permitir que a Grécia ficasse à tona e assim evitar que bancos e investidores europeus tivessem de fazer corte de cabelo.
Como resultado, já não são só os bancos privados europeus mas é também o seu Banco Central que estão afundados até ao pescoço na crise grega. Por outras palavras, a reestruturação grega já não prejudicaria apenas os bancos privados; forçaria Trichet a assumir grandes prejuízos no folha de balanços do BCE a escassos meses de passar a pasta a Mario Draghi.

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Iván Lira

terça-feira, junho 14, 2011

Club Bilderberg

O Club Bilderberg encontra-se reunido desde segunda-feira em St. Morizt na Suíça.
De Portugal, assistem à reunião:

Francisco Pinto Balsemão
Clara Ferreira Alves
António Nogueira Leite

Participantes do Bilderberg incluem membros de bancos centrais, especialistas em defesa, barões da imprensa de massa, ministros de governo, primeiros-ministros, membros de famílias reais, economistas internacionais e líderes políticos da Europa e da América do Norte. Alguns dos líderes financeiros e estrategistas de política externa do Ocidente participam do Bilderberg. Donald Rumsfeld é um Bilderberger activo, assim como Peter Sutherland, da Irlanda, um ex-comissário da União Européia e presidente do Goldman Sachs e British Petroleum. Rumsfeld e Sutherland compareceram em conjunto em 2000 na câmara da companhia de energia suíço-sueca ABB. O político e professor universitário Jorge Braga de Macedo e Francisco Pinto Balsemão são dois exemplos portugueses. O ex-secretário de defesa dos Estados Unidos e atual presidente do Banco Mundial Paul Wolfowitz também é um membro, assim como Roger Boothe Jr. O presidente atual do grupo é Etienne Davignon, empresário e político belga. (da enciclopédia Wikipedia)

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segunda-feira, junho 13, 2011

charlatanice política

Todos parecem concordar agora, que o arranque do olival, da vinha, o abate dos barcos da nossa frota pesqueira a troco de uns patacos da União Europeia, e de tantos outros disparates lesivos da economia nacional, foi um mau negócio para Portugal e todos parecem compreender também agora, que os interesses dominantes na UE não são exactamente os mesmos do nosso país. Economistas professores e não professores, embriagados então com os euros do BCE, multiplicavam-se em explicações para fazer crer ao pacato cidadão que uma tal política era a melhor para Portugal e para a sua convergência social e económica com a UE.
Hoje, aí estão eles a desdizer o que antes juravam a pés juntos. É preciso apostar nas pescas e na agricultura e povoar o interior, dizem-nos, o que na verdade o agricultor e o pescador sempre souberam e nunca o deixaram de dizer. E dizem-nos, com a maior das solenidades como se, num rasgo de inteligência, de grande descoberta se tratasse.
Ao mesmo tempo, os que assim falam, assistiram mudos e quedos a toda uma panóplia de medidas conducentes ao despovoamento do interior tomadas nos últimos anos – encerramento de escolas, de centros de saúde, de maternidades, de postos da GNR, de centros de atendimento da PT, EDP, de linhas ferroviárias (CP) e ao deslocamento de muitos outros serviços do Estado. E, assistem agora, em silêncio cúmplice, às propostas de extinção de câmaras municipais, não considerando que esta extinção acarretará seguramente o encerramento das Finanças, do Posto da GNR, Tribunal, Secretaria Notarial e Conservatória Predial, isto é, a machadada final no despovoamento de muitas vilas do interior. Pode considerar-se o encerramento de muitas Juntas de Freguesia agora a extinção de Câmaras Municipais, com Histórias de séculos, é que não faz sentido algum, pelo menos numa lógica de “aposta no povoamento”.
Chega de charlatanice política. A nossa classe política não merece o povo que tem!

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quarta-feira, junho 08, 2011

gerar riqueza e ampliar a desigualdade

Não basta criar riqueza. É preciso conhecer como se distribui. O que aconteceu nas eleições do último domingo no Peru dá para entender melhor como a criação de riqueza num modelo neoliberal não promove o desenvolvimento social. Num momento em que muitos se encantam (tardiamente) com o modelo neoliberal é interessante ler este artigo publicado na Pátria Latina.

HUMALA VENCE DE VIRADA E ENCERRA CICLO NEOLIBERAL
O Peru que foi às urnas neste domingo para rejeitar a continuidade da política neoliberal personificada em Keiko Fujimori registou a maior taxa de crescimento da América Latina no ano passado: 9%. A média de expansão do seu PIB tem sido elevada, da ordem de 7%. Em 2010, sua economia atraiu mais investimentos estrangeiros do que a Argentina.
O presidente Alan García, no entanto, deixa o cargo com uma das taxas de popularidade mais baixas das Américas: cerca de 26%, inferior à de George Bush, por exemplo, que encerrou o mandato em meio a uma hecatombe financeira e desacreditado pela guerra do Iraque. A explicação para o paradoxo, responsável pela vitória de Ollanta Humala, segundo as pesquisas de boca de urna, é o modelo de crescimento adoptado nos últimos anos.
O Peru desde os anos 90 cresce sem políticas públicas para redistribuir a riqueza em benefício da sociedade, sobretudo de sua vasta maioria pobre constituída de indígenas, que formam 45% da população (brancos são 15%). Foram deles os votos decisivos que garantiram a virada da candidatura de centro-esquerda. Basicamente exportadora de minérios, a economia peruana beneficiou-se fartamente da valorização dos preços das commodities nos últimos anos. A opção política, porém, foi por um modelo de crescimento de recorte neoliberal feito de desregulação máxima para os mercados e direitos sociais mínimos para a população.
A riqueza gerada nessa engrenagem não circula na sociedade, concentrando-se numa órbita restrita de beneficiados que gostariam de eleger Keiko Fujimori para afastar o risco de mudanças. A ausência de carga fiscal sancionou e acentuou as polarizações decorrentes dessa dinâmica A receita do Estado peruano é de 15% do PIB, inferior até mesmo à média latino americana e caribenha que já é acanhada, oscilando em torno de 18% do PIB, contra 39,8% da União Europeia, onde a rede de contrapesos sociais está consolidada. O governo Alan García poupou as mineradoras peruanas de uma taxação correspondente aos lucros fabulosos acumulados no actual ciclo de alta das matérias-primas.
O mercado naturalmente cuidou de seus próprios interesses e o Estado não reuniu fundos para investir em educação, saúde, habitação e segurança alimentar. No crepúsculo do ciclo neoliberal a renda per capita no Peru é de US$ 5.196, bem inferior a de outros países da região, como Uruguai, Chile, Brasil e México. A realidade, no entanto, é ainda pior que isso. Com 2/3 da mão de obra na informalidade, a sociedade peruana não dispõe de uma estrutura de direitos trabalhistas; a população rural, formada sobretudo pelos indígenas, vegeta; uma professora ganha cerca de R$ 200,00 por mês. É esse modelo de crescimento que ao gerar riqueza amplifica a desigualdade e polariza toda estrutura social que foi rejeitado agora nas urnas.
(Carta Maior; 2º feira, 06/06/ 2011)

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rené magritte
Ian macline
Pedro Mendez

segunda-feira, junho 06, 2011

“o mundo mudou”

Inequivocamente os portugueses quiseram livrar-se de Sócrates e do seu governo. A vitória eleitoral do PSD, mais do que um voto de confiança em Passos Coelho terá sido um voto contra Sócrates. O país cansou-se das aldrabices e mistificações do primeiro-ministro. Nem a sua patética apologia de última hora ao estado social, estado social que maltratou como ninguém ao longo dos anos da sua governação, lhe salvaram a pele.
Uma vez mais, apesar da elevada abstenção, os votos polarizaram-se em torno do PS e PSD. Hoje, tanto o PS como o PSD, se encontram afastados das suas matrizes ideológicas e, à semelhança dos partidos “socialistas e sociais-democratas” europeus, não mantém qualquer diferença ideológica entre si, tendo objectivos e praticas políticas comuns. São partidos de alternância, não constituindo verdadeiras alternativas de poder. A diferença entre eles reside apenas no modo diferente como executam as mesmas políticas. Com maior ou menor clientelismo, com maior ou menor desperdício, com maior ou menor corrupção institucional na gestão da Administração do Estado.
O PCP, fiel e agarrado às suas concepções de sempre e o Bloco de Esquerda, errático nas suas políticas e praticas e confuso em suas concepções ideológicas, não conseguiram motivar os portugueses e obter uma votação capaz de se tornarem em alternativa. Contudo, existe actualmente uma maioria da população portuguesa que não tem qualquer representação política, que não se revê nos partidos existentes e não têm assegurada a defesa política dos seus interesses. A elevada abstenção e algumas manifestações de cidadãos à revelia das centrais sindicais e poderes instituídos serão porventura a sua demonstração.
“ O mundo mudou”, ouvimos isto com alguma insistência no discurso político. E, na verdade, “o mundo mudou”, isto é, o capitalismo predominantemente produtivo cedeu lugar nos últimos anos ao capitalismo financeiro. Foi uma transformação que alterou e continua a alterar profundamente a distribuição da riqueza produzida o que tem provocado um aumento brutal das desigualdades sociais, uma dependência dos estados às oligarquias financeiras, um agravamento muito rápido e generalizado das condições sociais de vida dos cidadãos. Com as suas “reformas” neoliberais o capitalismo financeiro, conseguiu tornar os ricos astronomicamente cada vez mais ricos empobrecendo paralelamente a generalidade da população. As oligarquias financeiras aproveitando-se da “crise” financeira de que são responsáveis, pretendem sacar em sua insaciável ganância os maiores rendimentos possíveis, retirando-os às populações através dos Estados endividados que dominam com novos e sucessivos aumentos de impostos, diminuição de salários e pensões e cortes sociais. Todos somos sacrificados à excepção de uma reduzidíssima minoria. Todos, os trabalhadores, os pensionistas, o pequeno comércio, os intelectuais, os pequenos e médios industriais. Hoje a luta social já não é entre a burguesia e o proletariado mas entre a esmagadora maioria da população (entre ela também a pequena e a média burguesia) e uma minoria financeiramente poderosa e dominante, as oligarquias financeiras. E, nesta luta social que se adivinha como certa, uma nova formação ideológica surgirá, que advogue o desenvolvimento do capitalismo produtivo, uma distribuição da riqueza mais igualitária, uma democracia com controlo social efectivo, com rejeição absoluta da financeirização da economia e rejeição dos ideais neoliberais. Tenhamos consciência que em realidade “o mundo mudou”, não para aceitar as “reformas” neoliberais que nos querem impor mas para lutar contra elas com todas as nossas forças.

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sexta-feira, junho 03, 2011

Democracia real, já

Não há esperança. Nem qualquer dos partidos, potencial vencedor das próximas eleições, se atreve a oferecer esperança aos portugueses. O memorando assinado com a Troika é a capitulação do país face às oligarquias financeiras, ao capital financeiro, que hoje domina a UE. A única preocupação, o único objectivo da Troika consistiu na imposição de uma listagem de medidas - aumento de impostos, cortes sociais, diminuição de salários e de pensões - com quantificação quanto aos ganhos a nelas a obter de modo a que, tudo somado, se obtenha o montante suficiente para pagar as dívidas às instituições financeiras internacionais credoras. Tudo, muito bem somadinho e calendarizado. E, de três em três meses, cá teremos uma fiscalização troikiniana para averiguar do andamento do cumprimento de tais medidas. E chamam a isto “ajuda”. Com juros de 6% para “castigo”, como dizem.
As condições de vida dos cidadãos portugueses, as condições sociais e económicas do país irão regredir décadas a muito curto prazo. E, chegados lá, teremos mais dívida ainda e piores condições económicas e financeiras, seguramente. Com maior miséria e com as desigualdades sociais agravadas. É, na verdade, um futuro sem esperança. Nenhum dos políticos, economistas, politólogos ou comentadores, que apareceram nestes últimos dias nas televisões, se atreveu a desdizer este futuro miserável que nos aguarda. Resignados e acomodados dizem-nos “que não havia qualquer outra alternativa”. São a “voz” do sistema. Esforçam-se por acreditar que, em 2013, o governo português regresse aos “mercados” com emissão de dívida a juros de 3%, recomeçando o esquema Ponzi agora interrompido.
Demonstrámos antes, a falácia do “não haver dinheiro para pagar aos funcionários”. Ainda esta semana Portugal colocou cerca de 1.000 milhões de euros em dívida com juros de 4%. Por outro lado, foram Teixeira dos Santos e Sócrates, que entregaram o país “nas mãos dos mercados”. Foi o ministro das Finanças que se esforçou por abrir Portugal aos “mercados”. Em 1996 os residentes detinham 75% da dívida pública nacional e, em 2008, esse valor baixou para 22%, fruto da política entretanto seguida pelo ministério das finanças favorável aos interesses das instituições bancárias e financeiras. Recorde-se o “ataque” aos certificados de aforro com abruptas descidas de juros levando os aforradores a resgatá-los e a canalizarem o dinheiro para os bancos de juros mais atractivos. Foi uma medida conscientemente assumida por Teixeira dos Santos com o único objectivo de favorecimento das instituições financeiras. Os certificados de aforro constituíam então cerca de 20% da dívida enquanto hoje constituem apenas uma parcela residual. Entretanto milhões de euros “fogem” todos os meses do país. Com uma outra política financeira seria possível animar os certificados de aforro ou qualquer outro título de dívida junto dos residentes tornando o país menos dependente da ganância dos “mercados”.
Uma nova alternativa, uma nova política económica e financeira é possível. Uma nova economia é possível. Em democracia as políticas deverão satisfazer os interesses da maioria. E a maioria dos cidadãos é constituída pelo somatório dos pensionistas e daqueles cujo rendimento advém do produto do seu trabalho por conta de outrem. Trabalhadores e pensionistas constituem a maioria da população portuguesa. As políticas governamentais deveriam assim ter por objectivo primeiro a satisfação dos múltiplos interesses desta maioria. Uma política económica que verdadeiramente satisfaça os interesses nacionais, porque só se poderão chamar-se interesses nacionais aqueles que satisfazem os interesses da maioria da população.
Não é o que acontece. A nossa elite governante comporta-se como agente e fiel serventuário dos interesses do capital financeiro internacional, do FMI, do BCE, da UE. E, a política económica e financeira que praticam visam unicamente os interesses das oligarquias financeiras, dos oligopólios, do capital financeiro. A destruição da nossa agricultura, das nossas pescas, do nosso tecido produtivo ao longo dos últimos anos obedeceu a este figurino. Estamos a ser governados por elites políticas que defendem minorias e como tal, elites antinacionais e antipatrióticas. Com esta gente na verdade, não existe alternativa possível, apenas o agravamento das condições sociais e económicas actuais. Uma “revolução” democrática é desejável, já.
Democracia real, já.

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