domingo, agosto 21, 2016

A CGD E OS NOVOS “ACIDENTES” DO PS


O governo e os governantes do PS parecem não medir as consequências políticas de algumas das suas decisões e actos. Depois do “acidente” do caso das viagens ao euro oferecidas pela Galp, vem a gora o governo pretender alterar para valores superiores os vencimentos e o número de gestores da CGD.
Quando as famílias portuguesas vêm sofrendo desde 2008 cortes nos seus rendimentos, vivendo em grande sufoco, ainda que com algum alívio em 2016 com a reposição de alguns cortes pelo governo de António Costa, torna-se manifestamente impopular uma decisão deste quilate.
Tanto mais que é injusta e injustificável, por vários motivos.
Primeiro, o aumento dos vencimentos é absolutamente injustificável. Argumenta o ministério que as pessoas seleccionadas possuem grande competência e como tal terão que ser devidamente recompensadas ou então não se conseguiria gestores com igual competência. Esta argumentação, repetida anos a fio, é uma grande falácia mas tem sido usada ao longo dos últimos anos, sempre naturalmente por elementos do mesmo “agregado” de gestores e políticos, ora no governo, ora nas empresas. Na verdade, estas “sumidades” fazem parte de um certo grupo fechado de gestores, de uma certa casta de gestores que se perpetua em altos cargos em grandes empresas com ligações privilegiadas ao poder político. E, se analisarmos as suas carreiras veremos que existem outros factores extra profissionais que as impulsionaram e que nada têm a ver com as suas competências técnicas.
Este fenómeno de proteccionismo, da existência de um grande grupo de “exploradores” como o classifica Josef E. Stiglitz, dá pelo nome de Rent-seeking, isto é, a obtenção de rendimentos não como recompensa por se ter criado riqueza mas por açambarcamento de uma fatia excessiva de riqueza que não se produziu”. E diz mais este prémio Nobel, “sem rodeios, existem duas formas de enriquecer: criando riqueza ou retirando-a dos outros. A segunda tem a característica de subtrair à sociedade, uma vez que no processo de tomar riqueza, há uma parte dela que é destruída. Um monopolista que cobra demais pelo seu produto está a tirar dinheiro a quem está a comprá-lo e, ao mesmo tempo, a destruir valor”.
E ainda, “Um grande grupo de “exploradores” de rendimentos é o dos advogados de primeira categoria, que enriquecem ajudando outros a obter rendimentos através de práticas que contornam a lei. Ajudam a redigir as leis onde se introduzem lacunas jurídicas, de modo a permitir que os seus clientes fujam aos impostos, e depois criam os acordos complexos para tirar vantagem destes vazios na lei. Estes advogados são desmesuradamente recompensados por toda esta ajuda prestada no sentido de fazer os mercados funcionarem não como deveriam, mas sim como instrumentos que beneficiam apenas uma elite”.
É precisamente por esta razão que Proença de Carvalho, Nogueira Leite, Aguiar Branco ou Lobo Xavier entre outros, recebem avultadíssimos honorários de dezenas de empresas em simultâneo. Não será seguramente por elevada competência técnica que Jorge Coelho foi chamado para gestor da Mota Engil quando saiu do governo ou que agora Paulo Portas optasse pelo mesmo caminho? Quem acredita nisto?
 
Em segundo lugar é perfeitamente incompreensível que se recrute para a CGD este tipo de gestores oriundos de grandes empresas nacionais. Leonor Beleza da Fundação Champalimaud, Emídio Pinheiro presidente do Banco de Fomento Angola, Pedro Norton, ou ex-CEO do grupo Impresa ou de António Domingues do BPI por exemplo. Afinal, o que se pretende com essa ligação profissional? Se é uma forma de cimentar ou ganhar clientes e não se vislumbram outras razões, será uma forma enviesada e distorcida de obter favorecimentos.
Deverão ser as melhores práticas de gestão que deverão proporcionar à CGD as melhores clientelas e não o uso de artimanhas enviesadas e em nada transparentes. Não é esse tipo de gestão que os portugueses esperam da gestão de um banco público.