segunda-feira, novembro 28, 2016

A COERÊNCIA DA INCOERÊNCIA


Por um lado afirma o Bloco de Esquerda que a direita, o PPD e o PP, não estão interessados em transparência nenhuma quanto à gestão da CGD. Apenas visam criar obstáculos à sua recapitalização. Por outro lado, associam-se objectivamente a esta manobra de desestabilização e criação de entraves à recapitalização da CGD ao votarem conjuntamente com o PPD e PP, na Assembleia da República, a obrigação de entrega da declaração de rendimentos dos gestores da CGD, quando tal obrigação já é imposta constitucionalmente.
 Não sabemos se a demissão de António Domingues se deve directa e exclusivamente àquela aprovação na Assembleia da República. Agora que ela constitui uma prova de desconfiança difícil de aceitar pelos gestores da CGD, lá isso constitui.
 

 

 

sábado, novembro 12, 2016

RUI RIO, O PRÓXIMO NOVO LÍDER DA DIREITA

Algo está a mudar nas forças da direita neoliberal nacionais.
Tais forças, apoiantes do governo de Coelho e Portas e das suas políticas neoliberais durante os últimos quatro anos, assistiram com preocupação à mudança governativa e à formação de um novo governo, agora do PS, com apoio parlamentar do PCP e BE.
Como Coelho, pensaram que seria muito difícil a António Costa e ao seu governo reverter as medidas de cortes de salários, pensões e benefícios sociais aplicadas pelo anterior governo PPD/PP sem que tal colocasse em causa a redução do défice público, o acerto das contas públicas e todas as outras imposições económicas e orçamentais de Bruxelas. E, que seria impossível ao actual governo gerir os compromissos que assumiu com os seus parceiros parlamentares face a tais exigências.
 Por tudo isto, as forças da direita neoliberal portuguesa decidiram apoiar desde a primeira hora, a estratégia de Passos Coelho de verdadeira “insurreição institucional” contra o governo de António Costa. 
O PPD e o seu parceiro de coligação, enveredaram pela prática de uma oposição de ruptura e subversão, que vive da criação sucessiva de factos políticos artificiais e fantasmagóricos e fora da realidade, colocando-se assumidamente fora do diálogo democrático e procurando criar um clima de instabilidade política permanente.
E com a comunicação social, hoje nas mãos de grandes interesses económicos e financeiros, parceira solícita na divulgação desta trama.
São muitos os exemplos ao longo do tempo do desenrolar desta estratégia. Começou com a recusa afrontosa de apresentação de propostas na discussão do orçamento de 2016, depois anunciaram “que o orçamento de 2016 era um “esboço”, que a Comissão Europeia não o aprovava, depois foi “a novela do “Plano B”, um plano de austeridade que o governo de António Costa “mantinha escondido”, novela que teve honras de divulgação de primeira página nos jornais e abertura de telejornais dias seguidos. E, quando o Programa de Estabilidade foi apresentado a Bruxelas e nele não constavam os cortes nas pensões e salários nem aumentos do IRC, IRS ou IVA (o tal plano B) afirmaram então com a maior das convicções que “tais cortes e aumentos não aparecem agora mas virão mais tarde”.
E, como não houve mais cortes nem as previsões diabólicas anunciadas por Coelho se materializaram, com os juros da dívida pública estáveis, com Bruxelas a suspender as sanções pelo défice excessivo de 2015 e o orçamento de 2017 aprovada pela maioria parlamentar, PS,PCP e BE e aceite, tudo o indica, pelo euro-grupo, esta estratégia de Passos Coelho, apostada no artificialismo e na invenção de casos políticos fantasmagóricos, perante esta realidade, apresenta-se aos olhos das forças da direita, como desajustada e sem mais razão de ser.
 Com o défice a recuar para 2,5 ou 2,7%, com o desemprego a baixar para 10,5%, mais do que previa Bruxelas, com o emprego a subir e as exportações a atingiram um valor record no último mês com dados conhecidos (Setembro) com um crescimento homólogo de 6,6%, com tudo isto, mais reforçada sai a convicção das forças da direita neoliberal da necessidade da mudança de estratégia.
Com a consolidação do governo de António Costa e com a economia a renascer das atribulações porque passou nos tempos do anterior governo e, com todos os índices económicos e sociais a desmentirem dia a dia as fabulações da coligação PPD/PP, compreendem as forças neoliberais de direita que a estratégia até aqui prosseguida por Passos Coelho se encontra esgotada e ultrapassada e que se torna necessário uma mudança e um novo líder para encabeçar uma nova estratégia.
 Será neste contexto que deverá ser lido o discurso de Rui Rio em recente entrevista a um jornal. Ele apresenta-se como o novo líder do PPD/PSD, capaz de liderar uma nova estratégia da direita.
Ninguém estranhará portanto, que a comunicação social mude de “tom”, e as fabulações de Coelho, até aqui por ela propagandeadas, passem a ser mais espaçadas e com um tempo de antena mais reduzido.
A mudança de líder e de estratégia da direita neoliberal já iniciou a sua marcha.
 

 

 

AS SETE PROPOSTAS DE TRUMP QUE OS GRANDES MEIOS CENSURARAM... E QUE EXPLICAM A SUA VITÓRIA


Melhor que ninguém, Donald Trump percebeu a fractura cada vez mais ampla entre as elites políticas, económicas, intelectuais e mediáticas, por um lado e a base do eleitorado conservador, por outro lado. O seu discurso violentamente anti Washington e anti Wall Street seduziu, em particular, aos eleitores brancos pouco cultos e empobrecidos pelos efeitos da globalização económica.
 Há que precisar que a mensagem de Trump não é semelhante à de um partido neofascista europeu. Não é um ultra direitista convencional. Ele próprio se define como um “conservador com senso comum”.
 Trump não é um anti sistema, nem obviamente um revolucionário. Não censura o modelo político em si, senão os políticos que o comandam. O seu discurso é emocional e espontâneo. Apela aos instintos, ao estomago e não ao cérebro, nem à razão. Fala para essa parte do povo dos estados unidos entre o qual reina o desânimo e o descontentamento. Dirige-se à gente que está cansada da velha política, da «casta». E promete injectar honestidade no sistema; renovar nomes, rostos e atitudes.
 Os meios de comunicação social deram grande difusão a algumas das suas declarações e propostas mais odiosas. Recordemos, por exemplo, a sua afirmação de que todos os imigrantes ilegais mexicanos são corruptos, delinquentes e violadores. Ou o seu projecto de expulsar aos 11 milhões de imigrantes ilegais latinos a quem quer meter em autocarros e expulsar do país. Ou também a sua afirmação de que o matrimónio tradicional, formado por um homem e uma mulher, é "a base de uma sociedade livre". Sem esquecer as suas declarações sobre o "engano" da mudança climática que, segundo Trump, é um conceito "criado por e para os chineses, para fazer com que o sector industrial dos estados unidos perca competitividade".
 Este catálogo de declarações horripilantes e detestáveis foi, repito, massivamente difundido pelos meios dominantes não só nos Estados Unidos mas também no resto do mundo. E a principal pergunta que muita gente faz será: como é possível que uma personagem com tão lamentáveis ideias consiga uma audiência tão considerável entre os eleitores?
 Para responder a esta pergunta temos que romper a muralha informativa e analisar mais de perto o programa completo do candidato republicano e descobrir os sete pontos fundamentais que defende, silenciados pelos grandes meios de comunicação social.
 1) Os jornalistas não lhe perdoam, em primeiro lugar, que ele ataque de frente o poder mediático. Reprovam-lhe que constantemente anime o público nos seus comícios a troçar dos “desonestos” meios. Trump afirmou: «Não estou a competir contra Hillary Clinton, estou competindo contra os corruptos meios de comunicação»
Por considerar injusta ou enviesada a cobertura mediática, o candidato republicano não hesitou em retirar as credenciais de imprensa para cobrir a sua campanha a vários meios importantes, entre outros, The Washington Post, Politico, Huffington Post y BuzzFeed.
 2) Outra razão pela qual os grandes meios atacaram Trump é porque ele denuncia a globalização económica, convencido de que esta acabou com a classe média. Segundo ele, a economia globalizada está falhando a cada vez mais gente, e recorda que, nos últimos 15 anos, nos Estados Unidos, mais de 60.000 fábricas tiveram que fechar e quase cinco milhões de empregos industriais bem pagos desapareceram.
 3) É um fervoroso proteccionista. Propõe aumentar as taxas de todos os produtos importados. «Vamos recuperar o controlo do país, faremos que os Estados Unidos voltem a ser um grande país».
Partidário do Brexit, Donald Trump revelou que, uma vez eleito presidente, tratará de retirar aos EEUU do Tratado de Libre Comercio da América do Norte (NAFTA). Também arremeteu contra o Acordo de Associação Transpacífico (TPP), e assegurou que, se alcançar a Presidência, retirará dele o país: «El TPP seria um golpe mortal para a industria industrial dos Estados Unidos».
Em regiões onde as deslocalizações e o encerramento de fábricas deixaram altos níveis de desemprego e de pobreza, esta mensagem de Trump foi muito mobilizadora.
 4) Assim como a sua rejeição aos cortes neoliberais em matéria de Segurança Social. Muitos eleitores republicanos, vítimas da crise económica de 2008 ou que tinham mais de 65 anos, necessitam beneficiar-se da Social Security (reforma) e do Medicare (seguro de saúde) que desenvolveu o presidente Barack Obama e que outros líderes republicanos desejavam suprimir. Tump prometeu não tocar nestes avanços sociais, baixar o preço dos medicamentos, ajudar a resolver os problemas dos «sem tecto», reformar a fiscalidade dos pequenos contribuintes e suprimir o imposto federal que afecta a 73 milhões de famílias modestas.
 5) Contra a arrogância de Wall Street, Trump propõe aumentar significativamente os impostos dos corredores dos Hedge Funds, que ganham fortunas, e apoia o restabelecimento da Ley Glass-Steagall. Aprovada em 1933, em plena Depressão, esta lei separou a banca comercial da banca de investimentos com o objectivo de evitar que a primeira pudesse fazer investimentos de alto risco. Obviamente, todo o sector financeiro se opõe absolutamente ao restabelecimento desta medida.
 6) Em política internacional, Trump quer estabelecer uma aliança com a Rússia para combater com eficácia o Daesh. Ainda que para isso Washington tenha que reconhecer a anexação da Crimeia por Moscovo.
 7) Trump estima que com a sua enorme dívida pública os Estados Unidos já não dispõem dos recursos necessários para conduzir uma política externa intervencionista indiscriminada. Já não pode impor a paz a qualquer preço. Em oposição a vários caciques do seu partido, e como consequência lógica do final da guerra fria, quer mudar a NATO: «Não haverá nunca mais a garantia de uma protecção automática dos Estados Unidos para com os países da NATO».
 Todas estas propostas não invalidam em absoluto as inaceitáveis e odiosas declarações do candidato republicano difundidas a jorro pelos grandes meios de comunicação dominantes. Mas sim, explicam melhor as razões do seu êxito.
 (extractos de artigo de Ignacio Ramonet, publicado no Le Monde Diplomatique)
 
 
 

domingo, novembro 06, 2016

AFINAL QUAL O SIGNIFICADO DE UM BANCO PÚBLICO?

Exige-se desde logo de um banco público que ele tenha procedimentos de algum modo diferenciados de um banco privado. Isto é, que ele tenha uma lógica pública, uma lógica social, entendendo-se por isso que a sua estratégia de decisões vise não o máximo lucro, que é sempre o objectivo primeiro da banca privada, mas que seja um actor activo na economia oferecendo apoio sobretudo às pequenas e médias empresas, pois são estas que maiores dificuldades de crédito sentem por parte da banca privada, e por outro lado, saiba captar os depósitos particulares através de uma constante e agressiva campanha de obtenção de depósitos oferecendo juros mais altos. Deste modo, não apenas regulará o nosso sistema financeiro na prática dos juros de depósitos de particulares como igualmente regulará a prática do crédito oferecido às pequenas e médias empresas, dando assim um contributo activo e saudável ao desenvolvimento económico do país.
Não é isto que tem acontecido ao longo dos últimos anos com os vários e sucessivos gestores da CGD. A lógica que tem procedido a estes gestores tem sido em tudo idêntica à da gestão dos bancos privados. E neste sentido, até aqui, nas perspectivas dos cidadãos, ter a CGD um estatuto público ou privado, nenhuma diferença fazia. Dir-se-ia que, sendo pública, tem a agravante de havendo prejuízos os cidadãos serão chamados a pagar, só que, com a banca privada tem acontecido o mesmo, também ninguém nos livra do pagamento dos seus prejuízos quando acontecem, como sucedeu com o BPN, BPP e o BES.
Tendo uma participação activa de regulação do sistema financeiro nacional e agindo activamente na dinamização do desenvolvimento económico, como eu entendo ser a lógica de um banco público, os seus gestores não podem ter decisões semelhantes às da banca privada. Não se espera de um banco público que ele dê o máximo lucro ao seu accionista, como se procura na banca privada, mas que ele seja um interventor muito positivo na economia e no sistema financeiro. E assim, os prémios de uma futura boa gestão na CGD, não poderão basear-se em função dos lucros obtidos. Espera-se da gestão da CGD que o banco se torne saudável e que se obtenha lucros, mas não os máximos lucros e muito menos a qualquer preço.
Estará a nova gestão da CGD, escolhida pelo governo, envolvida nestes pressupostos ou é mais uma gestão com uma lógica em tudo semelhante às anteriores?